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23.3.09

23 de Março de 2009

Neste dia 23 de Março de 2009 a Horta deu o primeiro passo em não um, mas dois projectos do caraças. Daqueles mesmo para meter nojo. E tudo isto antes do pequeno almoço- hell yeah! Não me perguntem do que se trata porque eu não gosto de matar amigos.


Projecto Olhos Azuis - luz verde
Projecto Yankee -
luz verde


Materiais alternativos II: em busca do barrote

Agora que a Vespa de madeira é uma celebridade mundial, é então chegada a altura de colocar a pergunta mais importante de todas: tem barrote ou não? Rumores iniciais apontavam para um motor de "bn1" como sendo o propulsor escolhido. Não contentes com tão magra informação, os espiões infiltrados da Horta puseram escutas em telefones, assaltaram escritórios, arrombaram cofres e agrediram inocentes tentando descobrir as especificações do bicho. Afinal não era necessário pois há um folheto:


As especificações parecem consistentes com uma Vespa do início da década de 50 à primeira vista. Alega-se uma potência de 5cv às 4850 rpm, mas atenção que estes são cavalos de madeira com uma eficiência díspar da dos comuns cavalos de aço. A distância entre eixos superior em 40mm aos números de Pontedera é a primeira indicação de que uma máquina feroz se esconde sob o pacato exterior de celulose: esta distância extra sugere uma ciclística vocacionada para provas de arranque ou de velocidade, que sejam disputadas em linha recta - provas com curvas exigiriam uma distância entre eixos menor para aumentar a manobrabilidade. O diminuto volume do depósito, apenas 2.5 litros, corrobora a minha teoria "drag racer". O comprimento total ainda apresenta 20mm adicionais, mas isso deverá ser causado pela abundância de camadas de verniz.

Continuando a inspecção da lista de características, podemos constatar que a Vespa Daniela é construída com pau-rosa, ébano, faia, pau-cetim, jatobá, tacula, efizélia, sucupira, panga-panga e sicómoro. Ora o pau-rosa é muito utilizado na indústria da perfumaria sendo um dos ingredientes do Channel nº5; o ébano é uma madeira escura e rara, utilizada na marcenaria de luxo; a faia é rica em polifenóis de origem vegetal que inibem o ataque às plantas por herbívoros vertebrados ou invertebrados e também por microorganismos patogénicos; a madeira de pau-cetim é clara, com aspecto agradável e resistência mecânica de valor médio; o jatobá é utilizado por indígenas da Amazónia para curar diarreia, tosse, bronquite, problemas de estômago e fungos nos pés; a tacula é uma árvore Angolana cuja madeira tem veios de carmesim brilhante; a efizélia é uma madeira elegante que envelhece graciosamente; a sucupira tem uma secagem lenta com riscos de deformação e de abertura de fendas mínimos; a panga-panga tem uma tensão de rotura alta de 173 N/mm^2; e, finalmente, o sicómoro produz figos de qualidade inferior.

Podemos assim concluir que a Vespa Daniela é bem cheirosa, luxuosa, agradável, brilhante, graciosa, robusta, resistente a microorganismos patogénicos e curadora de micoses. Um veículo notável, sem dúvida, especialmente se não formos grandes apreciadores de figos e se analisarmos cuidadosamente as características da madeira panga-panga:


Esta madeira Africana encontra-se disponível em barrotes de 105mm, uma medida deveras impressionante quando comparada com um pistão de 200cc que dificilmente quebra a barreira dos 60mm! Sem dúvida nenhuma que a Vespa Daniela manda barrote. Mas por qual razão é que a ficha técnica lista um barrote de 54mm e uma velocidade máxima de 55km/h, ambos valores modestos e tranquilos? Tendo em conta que este tipo noticia uma velocidade máxima de 75km/h e uma capacidade do depósito dupla da da ficha, estou convencido que existe uma nefasta campanha de desinformação destinada a esconder a verdadeira performance deste meteoro de madeira. Entrevistas indicam um período de construção de 8 meses mas os anéis da madeira visíveis no avental revelam uma idade de 8 anos! Mais uma discrepância inexplicável.

Apesar deste esforço criminoso para manter em segredo a verdadeira essência do barrote, existe uma prova simples e incontestável que poderia pôr tudo a nu: um bom picanço à moda antiga. É certo que a Vespa Daniela, estando inserida numa categoria muito particular de scooters vintage realizadas em materiais alternativos, dificilmente arranjaria um competidor equiparado. Dificilmente mas não impossivelmente, pois o adversário ideal para uma Vespa de madeira é... a Lambretta de cartão (daqui)!


Estou convencido que a Lambretta teria a vantagem em provas lentas e sinuosas. Possuidora de baixo peso que lhe proporciona uma relação peso/potência invejável, despojada de balons para maior ventilação e calçada com uns pneus slick, a ágil Lambretta de cartão seria um enorme desafio para a massiva Vespa nesta situação. No entanto, o baixo peso da discípula de Innocenti torná-la-ia instável a altas velocidades ao passo que a pesada Vespa, com a sua longa distância entre eixos, ofereceria estabilidade e facilidade de controlo. Além disso o pistão de cartão da Lambretta não aguentaria as temperaturas elevadas da competição enquanto que o barrote de 105mm de pura madeira panga-panga, pouco susceptível ao ataque de fungos e insectos xilófagos, daria a proverbial ratada na Lambretta.

Temos barrote!