.


13.4.08

MotoCzysz C1

Aparentemente, este fim de semana houve o MotoGP de Portugal. Acho que ganhou um gajo qualquer, não prestei atenção. É razão suficiente para eu resgatar esta posta do directório dos rascunhos (eu não digo pasta, digo directório- sou do tempo do MS-DOS) e completá-la despendendo o mínimo de esforço possível. Ora o que se passa é que eu sempre pensei que não gostava de motas grandes. Simplesmente não me atraíam, não me diziam nada. Safavam-se a ocasional Ducati ou BMW, mas nunca houve uma mota grande de design moderno que tenha tido em mim o efeito "Wow". Até há algumas semanas atrás.

Apanhei o documentário "Birth of a Racer" do Discovery Channel (Alerta! Locução brasileira no Youtube!) e fiquei maravilhado. Um arquitecto americano, piloto de corridas amador, pegou no seu dinheiro e construiu uma mota de competição a partir do zero, com o intuito de correr no MotoGP. Conseguem imaginar uma pequena equipa, criada por um tipo, a competir com a Honda e companhia? Ainda mais impressionante- se tal for possível- é a mota em si.


Primeiro, o design. O Sr. Czysz é arquitecto e dá uns toques com o lápis e papel. A C1 é verdadeiramente linda, agressiva e elegante simultaneamente, com uma classe fora de série. Já estava enjoado de ver todas as motas parvas que os fabricantes grandes lançam ano após ano, sempre com aquelas linhas marcadas e ângulos afiados, numa orgia de exagero visual. Parecem todas crânios extra-terrestres, ou naves espaciais, ou desenhos animados. Façam alguma coisa diferente, raios! (Invariavelmente, parece que são todas conduzidas por tipos com capacetes réplica Rossi... É sempre um espectáculo triste de carneirismo e mau gosto...)

Em segundo lugar, a engenharia. Muitos teriam construído apenas o chassis, e comprado forqueta e motor a outras empresas. Seria a opção segura e rápida. Pois estes tipos construíram tudo, a partir duma folha de papel em branco. Chassis, motor, forqueta e restantes tralhas. E não se limitaram a copiar os mesmos desenhos cansados que são reciclados constantemente com mais 5 cavalos ou autocolantes diferentes, não!, fizeram coisas novas e emocionantes. O quadro é em fibra de carbono e serve de caixa de ar. O motor tem duas meias cambotas rodando em sentidos opostos para eliminar efeitos giroscópicos; esses efeitos são a razão porque todos montam os motores transversalmente, enquanto a C1 pode ter uma montagem longitudinal, tornando a mota invulgarmente estreita. A admissão é super-directa, e pode-se ver o topo do pistão olhando directamente por cima do carburador, mesmo apesar de todas as árvores de cames e cenas que ficam no meio. Ambas as suspensões quebram totalmente com as convenções e superam os desenhos tradicionais.

Eu adoro a inovação. Depois de estar feito parece sempre lógico e natural, mas fazê-lo pela primeira vez é tão difícil quanto fascinante. Aturem-me só mais um pouco enquanto vos falo do Sr. Britten, com uma história muito paralela a esta, e injustamente desconhecida. Um homem de grande talento a construir peças como rodas de carbono e carters de motor na sua garagem, e a criar motas de competição de desenho revolucionário que foram para a pista e deram porrada nas equipas "grandes", mantendo-se em muitos aspectos insuperadas ainda hoje, quinze anos depois.

Resumindo, eu estava errado ao pensar que não gostava de motas grandes. Eu não gosto é de motas feias, e as motas grandes são quase todas feias. Mais ninguém nota! É autenticamente uma situação de "o Rei vai nú", e a MotoCzysz, finalmente e para gáudio meu, prova-o. Acho que as regras do MotoGP mudaram- a cilindrada foi reduzida- e por isso a C1 não pode lá correr na sua configuração actual. Mesmo assim, já têm aqui um fã. Rice rockets suck.

2 comentários:

Toni disse...

Outro fã! Desconhecia por completo esta obra de arte.Tenho abominado cada vez mais tudo o que faz nas "motas grandes" com duas excepções, a Ducati 916 e a Buell XB9, abraço

O Encoberto disse...

estou a ver o documentário. Não podia estar mais de acordo com tudo o que é dito aqui.
Deixei as corridas como técnico porque me cansei de ser um trocador de peças.

Tem razão em gostar da Ducati, trabalhei nela e é uma das motas que tenho mais saudades, mesmo quando não pegava ou partia a caixa....

Fui de propósito ao Guguenheim (não sei se escreve assim)para ver uma Britten. É fabulosa!!!!

divirtam-se!!!

Joe War