Aparentemente, escrever artigos para revistas com a expressão "convívio entre os participantes" repetida cinco vezes por parágrafo tem alguns benefícios. Recebi ontem um SMS que dizia algo do estilo "Vamos à Maia tirar fotos a umas scooters, queres vir?". A minha resposta: "Sim, mas é Gaia, e não Maia". Lisboetas... [encolher de ombros]
Chegado ao stander, a minha PX suja destoava no meio de todo o plástico chinês reluzente como... bem, como... uma scooter italiana com mudanças no meio dum stander de aceleras, quads e motas chinesas. A sessão de fotos decorreu mesmo ali na rua, e tanto a vasta gama de máquinas fotografadas como a actividade subjacente não eram totalmente desprovidas de interesse.
"Ok, agora fotos em andamento. Tu aí, anda cá!". Alguém me pôs nas mãos um casaco Bering, umas luvas Alpinestars e um penico CMS. O casaco estava muito curto, mas ninguém pareceu notar. "Pega naquela scooter, vai até ao cimo da rua e desce." - "O quê, esta scooter???!!!"
A minha "companheira", idêntica à da foto mas em cor de champanhe, era duma marca Ching Chong chinesa genérica. Um autocolante grande no guiador com avisos importantes estava escrito em Indonésio, ou alguma outra língua incompreensível. Não tinha mudanças. Não tinha mudanças!!! Depois de 34 anos de pureza e castidade totais, eu montei em cima da minha Ching Chong 150 a 4 tempos, torci o acelerador, e fiz-me à estrada sem nenhuma acção por parte da mão esquerda. Estava alegre e entusiasmado por estar a experimentar algo diferente, mas ao mesmo tempo sentia-me sujo por trair as minhas crenças, com um tipo de sujidade que não sai nem com duas horas de desinfectante hospitalar e uma grande pedra-pomes.
Subi um pouco, e desci até ao fim da rua. Subitamente, o motor parou sozinho e todos os botões deixaram de funcionar. A minha scooter morreu no meio do cruzamento, mesmo em frente ao café. Depois de alguns segundos a experimentar os botões pouco familiares, decidi empurrá-la rua acima, vestindo um blusão Bering resplandecente mas apertado, e umas luvas Alpinestars a condizer com protecções de carbono. Eu mereci...
Enquanto a Ching Chong 150 estava a levar um fusível novo, deram-me para as mãos (ou será "para o rabo"?) uma motorizada tipo Honda CG125 mas do mesmo fabricante oriental, porque "combina com o teu casaco". Boa! O karma acabou de me castigar há dois minutos atrás por andar numa acelera, e agora vou pegar numa coisa com mudanças de pé e rodas grandes! Suspiro... Realizei um esforço hercúleo para me lembrar das minhas aulas de condução, que ocuparam uns 90 minutos da minha vida há uma década atrás, e recordar-me que a primeira era para baixo. Arranquei com pouca elegância e, após alguns pregos, ganhei o mínimo de confiança para sair da rua... E perder-me nos dormitórios de Gaia! Enquanto me aproximava perigosamente perto do centro de Gaia, preso numa rede inexorável de sentidos obrigatórios e proibidos, dois pensamentos assaltaram-me: "Acho que esta mota não tem matrícula!" e "Acho que esta mota só tem um fundinho de gasolina!"- o karma de novo mostrava o seu desagrado pelas minhas escolhas erradas.
Logo regressei à base, onde constatei que afinal sempre tinha gasolina e matrícula. Servi de modelo para mais umas fotos dum acessório interessante, e regressei à minha velha amiga cor de champanhe, que "morreu" de novo mal me sentei em cima dela. Hhhhmmmmm... Talvez tenha sido melhor assim, pois o fluido de travões a escorrer pelo guiador abaixo não inspirava confiança. Depois do almoço fomos para Valongo experimentar as moto-4 e os ATVs, mas eu fiquei só a tirar fotos. Dois veículos do demo são suficientes para um dia. Três seria mesmo abusar.