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30.10.19

A Cosa SS do Sam


Existirá um modelo de Vespa menos desejado e menos atraente que a Cosa? Provavelmente não. A Cosa foi desenhada para substituir a icónica PX e falhou miseravelmente nesse propósito, deixando um legado longe de brilhante aliado a uma estética de “velhote”. Mas…. E se tudo isto pudesse ser corrigido?


É aqui que entra em acção o Sam, um dos mecânicos mais experientes de Portugal e o “maestro” da Oficina 240. Uma Cosa 200 maltratada foi localizada num site de classificados e começou imediatamente a ser transformada em algo especial, algo digno de representar e publicitar a Oficina 240.


Este exemplar de Cosa, apesar de relativamente intacto, vinha coçado e amassado; o sogro do Sam resolveu rapidamente essa situação com algum trabalho de chapeiro e uns retoques na pintura preta original que foi mantida. O tema do vermelho sobre preto manifestou-se organicamente e foi prontamente adoptado, em grande parte por lembrar ao Samuel a sua primeira bicicleta BMX, revestida por essa mesma combinação clássica de cores.


A designação SS não só remete para os excitantes modelos desportivos da Vespa – juntamente com as pinceladas ocasionais de vermelho – mas também representa as iniciais de Samuel Santos, num pormenor delicado de personalização e autoria. Os logótipos de estilo coçado e apagado anunciam que não se trata de uma Vespa perfeita, mas sim de uma Vespa para andar. Ainda tem arestas por limar, e tê-las-á sempre.


Mas medíocre é a Vespa personalizada que se contenta com umas cores chamativas! Esta máquina era obrigada a ir, e vai, muito mais além. A modificação mais notória é, sem dúvida, a instalação de um guiador/cabeçote de T5 na forqueta e guarda-lamas originais. Esta manobra não é inédita – o Sam já a tinha visto em França nos anos 90 – mas é tão invulgar quanto genial. Com um único golpe, a Cosa descarta o seu porte desinspirado e geriátrico, ganhando uma frente moderna, coesa e, ouso dizê-lo, até desportiva. Esta já não é uma scooter de velhote.


A Cosa SS tem muito mais para ver: ainda na dianteira podemos apreciar o guiador convertido para travão hidráulico, o rotor ondulado e o distintivo de avental customizado. Os piscas escurecidos realçam as linhas elementares da Cosa e são mais uma contribuição valiosa para este refrescamento estético delicioso de um modelo perenamente enfadonho. Uma conta Horta Premium vitalícia para quem reparou que a matrícula é ligeiramente maior que o normal, um pormenor aparentemente inconsequente mas que adiciona pontos de elegância e limpeza de linhas à traseira.


Continuando no capítulo da iluminação, o veículo negro e escarlate em exame apresenta-se com running lights de LEDs embutidas no farol dianteiro e com fitas de LEDs a cumprirem o dever da lâmpada de stop traseira. Está planeada uma conversão total para LEDs, mas tal irá exigir um prato de bobinas “massajado” com um circuito de corrente directa (ou rectificada) para alimentar as luminárias modernas a par de outro circuito de corrente alterna para manter o conta-rotações do painel de T5 a funcionar.


“E o motor?”, perguntam vocês em coro afinado e tronituante! Mantém-se basicamente original, já que um motor 200 de fábrica tem um barrote respeitável. Esta será uma scooter para o dia-a-dia e para viajar, algo incompatível com kitanços extremos. Irá ser presenteada, no entanto, com um pistão novo trabalhado e um filtro de ar modificado, não tivesse o Samuel uma experiência incomparável na preparação de motores Vespa.



Outros pontos negativos da família Cosa são a torneira de gasolina e o ar/ choke, ambos de actuação eléctrica: talvez funcionassem bem há 30 anos mas uma dor de cabeça no presente quando se avariam. A sua preocupação constante com fiabilidade mecânica e eléctrica levou o Sam a converter estes dois comandos para actuação manual, como Corradino ordenou. Ainda no assunto de características invulgares da Cosa que deixaram de ser boa ideia três décadas após o seu lançamento, os travões hidráulicos de tambor combinados foram reencarnados numa configuração mais consensual: travão de disco à frente e travão convencional mecânico atrás, esta última conversão realizada “à pata” pelo Sam.



A partir daqui somos obrigados a aproximar o nariz da chapa (ou plástico) para descobrir a miríade de pequenas alterações que traem as longas horas de trabalho e os inúmeros anos de experiência aplicados neste projecto. O descanso lateral que prende no parafuso do motor, os “quatro piscas”, a buzina de carro, o porta-luvas com porta de carregamento USB e iluminação. O banco está na lista para receber iluminação e um cilindro de gás, facilitando os abastecimentos de combustível nocturnos. As manetes de travão também são temporárias, revelando um processo de experimentação que destilará os componentes ideais a seu tempo.



As Vespas customizadas em Portugal costumam ser alteradas, ou cortadas, ou kitadas. Raramente são melhoradas, algo sobejamente difícil. A Cosa do Sam é, sem dúvida, uma Cosa melhor.