Existirá um modelo
de Vespa menos desejado e menos atraente que a Cosa? Provavelmente
não. A Cosa foi desenhada para substituir a icónica PX e falhou
miseravelmente nesse propósito, deixando um legado longe de
brilhante aliado a uma estética de “velhote”. Mas…. E se tudo
isto pudesse ser corrigido?
É aqui que entra em
acção o Sam, um dos mecânicos mais experientes de Portugal e o
“maestro” da Oficina 240. Uma Cosa 200 maltratada foi localizada
num site de classificados e começou imediatamente a ser transformada
em algo especial, algo digno de representar e publicitar a Oficina
240.
Este exemplar de
Cosa, apesar de relativamente intacto, vinha coçado e amassado; o
sogro do Sam resolveu rapidamente essa situação com algum trabalho
de chapeiro e uns retoques na pintura preta original que foi mantida.
O tema do vermelho sobre preto manifestou-se organicamente e foi
prontamente adoptado, em grande parte por lembrar ao Samuel a sua
primeira bicicleta BMX, revestida por essa mesma combinação
clássica de cores.
A designação SS
não só remete para os excitantes modelos desportivos da Vespa –
juntamente com as pinceladas ocasionais de vermelho – mas também
representa as iniciais de Samuel Santos, num pormenor delicado de
personalização e autoria. Os logótipos de estilo coçado e apagado
anunciam que não se trata de uma Vespa perfeita, mas sim de uma
Vespa para andar. Ainda tem arestas por limar, e tê-las-á sempre.
Mas medíocre é a
Vespa personalizada que se contenta com umas cores chamativas! Esta
máquina era obrigada a ir, e vai, muito mais além. A modificação
mais notória é, sem dúvida, a instalação de um guiador/cabeçote
de T5 na forqueta e guarda-lamas originais. Esta manobra não é
inédita – o Sam já a tinha visto em França nos anos 90 – mas é
tão invulgar quanto genial. Com um único golpe, a Cosa descarta o
seu porte desinspirado e geriátrico, ganhando uma frente moderna,
coesa e, ouso dizê-lo, até desportiva. Esta já não é uma scooter
de velhote.
A Cosa SS tem muito
mais para ver: ainda na dianteira podemos apreciar o guiador
convertido para travão hidráulico, o rotor ondulado e o distintivo de
avental customizado. Os piscas escurecidos realçam as linhas
elementares da Cosa e são mais uma contribuição valiosa para este
refrescamento estético delicioso de um modelo perenamente enfadonho.
Uma conta Horta Premium vitalícia para quem reparou que a matrícula
é ligeiramente maior que o normal, um pormenor aparentemente
inconsequente mas que adiciona pontos de elegância e limpeza de
linhas à traseira.
Continuando no
capítulo da iluminação, o veículo negro e escarlate em exame
apresenta-se com running lights de LEDs embutidas no
farol dianteiro e com fitas de LEDs a cumprirem o dever da lâmpada
de stop traseira. Está planeada uma conversão total para LEDs, mas
tal irá exigir um prato de bobinas “massajado” com um circuito
de corrente directa (ou rectificada) para alimentar as luminárias
modernas a par de outro circuito de corrente alterna para manter o
conta-rotações do painel de T5 a funcionar.
“E o motor?”,
perguntam vocês em coro afinado e tronituante! Mantém-se
basicamente original, já que um motor 200 de fábrica tem um barrote
respeitável. Esta será uma scooter para o dia-a-dia e para viajar,
algo incompatível com kitanços extremos. Irá ser presenteada, no
entanto, com um pistão novo trabalhado e um filtro de ar modificado,
não tivesse o Samuel uma experiência incomparável na preparação
de motores Vespa.
Outros pontos
negativos da família Cosa são a torneira de gasolina e o ar/ choke,
ambos de actuação eléctrica: talvez funcionassem bem há 30 anos
mas uma dor de cabeça no presente quando se avariam. A sua
preocupação constante com fiabilidade mecânica e eléctrica levou
o Sam a converter estes dois comandos para actuação manual, como
Corradino ordenou. Ainda no assunto de características invulgares da
Cosa que deixaram de ser boa ideia três décadas após o seu
lançamento, os travões hidráulicos de tambor combinados foram
reencarnados numa configuração mais consensual: travão de disco à
frente e travão convencional mecânico atrás, esta última
conversão realizada “à pata” pelo Sam.
A partir daqui somos
obrigados a aproximar o nariz da chapa (ou plástico) para descobrir
a miríade de pequenas alterações que traem as longas horas de
trabalho e os inúmeros anos de experiência aplicados neste
projecto. O descanso lateral que prende no parafuso do motor, os
“quatro piscas”, a buzina de carro, o porta-luvas com porta de
carregamento USB e iluminação. O banco está na lista para receber
iluminação e um cilindro de gás, facilitando os abastecimentos de
combustível nocturnos. As manetes de travão também são
temporárias, revelando um processo de experimentação que destilará
os componentes ideais a seu tempo.
As Vespas
customizadas em Portugal costumam ser alteradas, ou cortadas, ou
kitadas. Raramente são melhoradas, algo sobejamente difícil. A Cosa
do Sam é, sem dúvida, uma Cosa melhor.