Andamos tão preocupados com cromados, kits e pinturas metalizadas, que nos esquecemos da verdadeira essência da scooter. Transporte barato. É isso que ela é para a esmagadora maioria dos seus utilizadores, e não o último acessório de moda a tornar-se popular no bairro.
A foto de hoje ilustra essa essência, e revela-se fascinante de inúmeras maneiras. Algures na Ásia existe um país onde o código da estrada permite a circulação de um atrelado de dois andares feito com dexion, propulsionado por uma acelera controlada remotamente (do andar de cima, claro), e estabilizada por rodas de carrinho de carga, uma das quais furada. Notem que o dexion se espalha para cima da acelera, como uma era parasítica que asfixia a árvore que a suporta. Uma assimilação tipo os Borg.
Olhem com atenção para a extremidade esquerda do atrelado/ habitáculo/ sala de estar e verão um pequeno moto-gerador. No meio, verão uma lâmpada pendurada, uma pequena televisão, e o que aparenta ser um rádio "gueto blaster". E pensavam vocês que o triciclo das castanhas tinha pinta!... Conseguem imaginar o potencial desta configuração de veículo nas concentrações? Podemos levar meia dúzia de penduras, todas elas atléticas e com vinte e poucos anos. Podemos fazer filmagens magníficas do grande passeio. Podemos ver a bola e fazer pipocas (micro-ondas não incluído). Se chover, é só levantar os oleados. À noite, dormimos no terraço, longe dos bichos e por baixo das estrelas. Em viagem, podemos ligar o cruise control, virarmo-nos para trás em plena Nacional, e soltar um "Ó Maria, a minha sandes de couratos, sai ou quê?".
A estrutura parece já ter muito uso, o que valida o seu design. Até uma rodinha lateral furada não se revela problemática, graças a uma elevada redundância (muitas rodinhas). Com mais algum dexion e uma bola de espelhos, temos pista de dança móvel para as concentrações.