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31.1.08

Sinoblocos crónicos

Consigo visualizar a cena na minha cabeça. Um Vespista novato, depois de muito ansiar por uma Vespa daquelas antigas que tinha visto a passar na rua e que pareciam muito divertidas e giras, lá consegue encontrar uma num negociante que não esteja completamente podre e cujo preço seja inferior a 4000 euros. Mais ou menos enganado, o nosso Vespista dirige-se imediatamente à sua próxima paragem, o mecânico que lhe foi recomendado como sendo capaz de "recuperar" o seu delapidado clássico.

-"Boa tarde. É para recuperar esta Vespa, por favor."
-"Ora sim senhor. Vou desmontar todas as peças sem excepção e inspeccioná-las. As peças reaproveitáveis serão recondicionadas para ficarem como novas. Tudo o que estiver gasto ou podre será substituído- exceptuando, claro, os sinoblocos do motor. Estes componentes que realizam a ligação vital entre o chassis e o motor/suspensão traseira desempenhando um papel crucial na estabilidade e comportamento do veículo e que são feitos em borracha que se altera notoriamente ao longo de 40 anos a suportar todo o peso do veículo, do seu ocupante, e todos os choques e vibrações da estrada, esses serão intocados."
-"Parece-me bem. Fica entregue, então."

Eu compreendo que as pessoas gastem montes de dinheiro e esforço a "restaurar" uma Vespa duma ponta à outra, mas não troquem os sinoblocos (compreendo, mas não concordo). É uma operação que fica aquém da capacidade mecânica e da vontade dos recuperadores típicos nacionais. Mas é um restauro, ninguém disse que ia ser fácil. É como ter um lindo relvado tratado e um grande poio de vaca fumegante no meio. E esta Vespa andava com dois em cima, devia ser segura nas curvas e tudo.